Derrubada de árvores em SP causa preocupação, e especialistas alertam sobre impactos em período de chuva
30/01/2025
(Foto: Reprodução) Nos últimos dois anos, a Prefeitura de SP admitiu a derrubada de 45 mil árvores na capital, com previsão de plantio de 157 mil mudas. Derrubada de árvores em SP causa preocupação
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O que a natureza demorou décadas para colocar de pé foi abaixo em menos de oito horas. O conjunto de cerca de cem árvores na Rua Sebastião Cortez, em Perdizes, Zona Oeste de SP, desapareceu uma semana antes do temporal que assustou os paulistanos na última sexta-feira (24).
Alguns moradores dos prédios que ficam no topo do terreno acompanharam a derrubada e disseram que registraram o corte sem acreditar no que estavam vendo.
A prefeitura, via Secretaria Municipal do Verde e Meio ambiente, aprovou o corte de 94 árvores, com cerca de 75 anos, mediante compensação ambiental. Em troca, 90 mudas de três centímetros devem ser replantadas no local.
A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente denunciou o caso à Justiça. A promotora Cristina Godoy de Araújo Freitas sustentou que "o local é tomado por declives com mais de 17 graus, o que impede o parcelamento do solo de acordo com uma lei federal".
Além disso, afirmou que "o terreno é majoritariamente coberto por vegetação de preservação permanente (VPP), sendo que alguns trechos constituem área de preservação permanente (APP)".
Nesta semana, a 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo atendeu ao pedido do Ministério Público e determinou a interrupção da derrubada de árvores e a continuidade de qualquer obra no terreno.
100 árvores foram derrubadas na Rua Sebastião Cortez, em Perdizes, Zona Oeste de SP
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Impactos em período de chuva
Nos últimos dois anos, a prefeitura admitiu a derrubada de 45 mil árvores na capital, com previsão de plantio de 157 mil mudas.
O problema é que os estragos chegam antes dessas árvores crescerem. No Bosque de Perdizes, como foi chamado o lugar, as árvores seguravam a encosta. Com a chuva da última sexta-feira, a encosta desbarrancou, e a lama foi para o meio da rua.
"A terra começou a lavar a rua, porque a terra foi mexida, e não foi contida. Tinham vegetações rasteiras, e a própria vegetação das árvores, não foi colocada uma manta, não foi colocado absolutamente nada", afirmou Diana de Macedo, analista de frota e moradora do bairro.
"Eles destruíram a paisagem. A gente consegue ver coisas que a gente nunca conseguiu ver antes, né? Porque as árvores tinham vida silvestre. A gente tinha muita arara selvagem, os ninhos desapareceram, foi tudo cortado. Ontem uma colega achou um ninho com passarinhos mortos que foi trazido pela chuva. Foi muito triste. Mudou a paisagem de todo mundo. As árvores eram maiores do que os nossos prédios", ressaltou.
Segundo o promotor Carlos Henrique Prestes Camargo, a prefeitura está permissiva com relação à supressão de vegetação em São Paulo.
"O Caex [Centro de Apoio à Execução], que é o nosso órgão técnico, tem falado constantemente em todas essas autorizações que há vedações legais para que essas autorizações não sejam feitas", afirmou.
E complementou: "Tanto é verdade que o Judiciário tem deferido todos os pedidos do Ministério Público. As liminares têm sido concedidas. E essas obras estão paradas. Por quê? Porque há discussão de que é área de preservação permanente, área de vegetação permanente, área imune de corte, área de vegetação significativa para o município, tudo isso tá sendo ignorado pelo município".
Obras paralisadas pela Justiça
Construção do incinerador de São Mateus, na Zona Leste, que prevê a derrubada de 10 mil árvores, também foi barrada na Justiça
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Ter uma licença ambiental é fundamental para fazer o corte de qualquer área verde. Mas nem sempre essas autorizações são garantia de que a obra não vai ter problemas.
Um número crescente de empreendimentos imobiliários é questionado na Justiça por causa dos termos de compromisso ambiental. O SP2 mostrou diversos casos de obras que foram paralisadas pela Justiça no ano passado.
No Alto da Lapa, Zona Oeste, a construtora que apresentou um plano de corte de 164 árvores do bosque que fica nos fundos do Instituto dos Salesianos está proibida de iniciar qualquer movimentação de terra, até que sejam avaliados os argumentos se a área é ou não de preservação permanente.
No Jardim Marajoara, na Zona Sul, a Justiça suspendeu a construção de um condomínio que previa o corte de quase 700 árvores de uma área de Mata Atlântica, que por lei, tem que ser preservada.
E na Avenida Sena Madureira, ainda Zona Sul, o Ministério Público denunciou o corte das árvores previsto para a construção de um túnel. Para o MP, a licença ambiental é ilegal porque não levou em consideração o corredor verde nem a presença de nascentes na região - entre outras irregularidades.
A construção do incinerador de São Mateus, na Zona Leste, que prevê a derrubada de 10 mil árvores também foi barrada na Justiça devido aos potenciais danos irreversíveis ao meio ambiente. Por lá, a movimentação de terra não está autorizada. Mas o Globocop, da TV Globo, registrou que o barro já tomou conta da paisagem.
O que diz a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente
Nos últimos dois anos, a prefeitura de SP admitiu a derrubada de 45 mil árvores, com previsão de plantio de 157 mil mudas
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Há 10 dias, a produção do SP2 conversa com a Secretaria do Verde e do Meio ambiente sobre o assunto. A pasta, que é comandada por Rodrigo Ashiuchi, enviou uma nota.
Disse que acatou a decisão da Justiça e suspendeu o termo de compromisso ambiental no Bosque de Perdizes, assim como o alvará da incorporadora.
Afirmou ainda que estuda as medidas cabíveis e que a Defesa Civil esteve no local e não encontrou risco de potencial deslizamento de terra.
Sobre a paralisação das obras no aterro sanitário em São Mateus, a TV Globo procurou a Ecourbis, empresa responsável, que nos pediu para procurar a Spregula, que por sua vez, disse para questionarmos a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que disse que vai apurar o caso.
Moradores da Vila Mariana protestaram contra o corte de árvores na Rua Sena Madureira, em obra da gestão Ricardo Nunes (MDB).
Montagem/g1/Reprodução/Instagram
