Passa de mil o número de garrafas apreendidas em SP após casos de intoxicação por metanol
02/10/2025
(Foto: Reprodução) 'Não dá para saber quanto tempo vai levar', diz diretor da Polícia Científica de SP sobre laudos de bebidas suspeitas de metanol
A quantidade de garrafas apreendidas em São Paulo e na região metropolitana durante operações integradas de fiscalização após os casos de intoxicação por metanol chegou a 1.002 nesta quinta-feira (2). Os itens apreendidos são levados para análise técnica do Núcleo de Química da Polícia Civil.
Segundo os dados divulgados pelo governo do estado, foram apreendidas 60 garrafas de vodca nesta quinta em um estabelecimento em M'Boi Mirim, na Zona Sul da capital. As bebidas são do mesmo lote apreendido em uma distribuidora em Barueri, na Grande São Paulo, na quarta (1º). O local, que não teve o nome divulgado, foi interditado.
Além disso, segundo o governo, foram encontradas caixas abertas, rotulagem errada e no espaço havia roedores, baratas, alimentos e água de coco vencidos e carne sem controle de temperatura.
Até a noite desta quinta-feira (2), São Paulo tem 11 casos confirmados de intoxicação por metanol em bebida e 41 em investigação. Sete bares e distribuidoras foram interditados nas operações integradas nesta semana.
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A capital registrou interdições nos bairros de Bela Vista, Itaim Bibi, Jardins, Mooca e M'Boi Mirim, enquanto na Grande São Paulo bares e distribuidoras foram fechados em São Bernardo do Campo e Barueri.
Os bares e as distribuidoras interditados tiveram suas inscrições estaduais suspensas pela Secretaria Estadual de Fazenda, ou seja, estão impedidos de comprar e vender. Um gabinete de crise foi criado na terça-feira (30) para coordenar as ações das secretarias da Saúde, Segurança Pública, Fazenda e Justiça.
Casos em SP:
Há 11 casos confirmados de intoxicação por metanol (há laudo atestando presença de metanol e confirmação de circunstâncias que indicam que a pessoa ingeriu bebida adulterada);
Outros 41 estão sob investigação (há indícios clínicos, mas aguardam laudo para confirmar presença de metanol e investigações para entender circunstâncias de eventual ingestão da substância).
Mortes em SP:
Uma morte confirmada por intoxicação por metanol após consumo de bebida adulterada (com laudo e confirmação de ingestão de bebida adulterada);
Cinco mortes sob investigação (sem laudo e sob investigação das circunstâncias).
Bebidas contaminadas com metanol foram responsáveis pela morte de duas pessoas em São Paulo, uma terceira morte está sendo investigada.
Reprodução/TV Globo/Fantástico
Principais números das operações em SP:
Estabelecimentos interditados: 7
Capital: Bela Vista, Itaim Bibi, Jardins, Mooca e M'Boi Mirim
Grande SP: São Bernardo do Campo e Barueri
Apreensões de bebidas:
1.002 garrafas apreendidas durante operações integradas desta semana
Recomendações à população
O metanol é altamente tóxico, podendo causar cegueira permanente e até a morte;
Pode estar presente em bebidas adulteradas, combustíveis, solventes e líquidos de limpeza;
Unidades de saúde do estado estão preparadas para atendimento;
Laboratórios em Campinas, Botucatu e Ribeirão Preto realizam análises de sangue e urina com resultados em até uma hora.
Fiscalização interditou bares na capital.
Pablo Jacob/Governo de São Paulo
Brasil
O país registra 59 notificações relacionadas à intoxicação por metanol até a tarde desta quinta, segundo informou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante coletiva de imprensa. Dessas 59, 11 já têm a detecção laboratorial da presença do metanol.
Em relação aos estados dos registros, o ministro informou que:
53 são de São Paulo;
5 são de Pernambuco;
1 é do Distrito Federal.
Padilha ainda informou também que foi estabelecido um estoque de etanol farmacêutico nos hospitais universitários federais e a compra de 4.300 ampolas para que elas estejam disponíveis para qualquer centro de referência ou unidade de saúde que não tenha.
"Já temos um estoque desse produto, e estamos ampliando. Vamos chegar na compra de mais 4.300 ampolas, que estarão disponíveis a qualquer estado, qualquer centro de referência, qualquer unidade de saúde que não tenha esse etanol farmacêutico. Vários estados compram esse produto e já têm esse produto disponível. Eventualmente, estados, secretarias estaduais e municipais que não tiverem, elas podem acionar esses estoques que estão concentrados nos hospitais universitários e a gente pode deslocar isso de imediato", afirmou.
🔍 O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal.
Casos
No dia 30 de agosto, Rafael Anjos Martins, de 28 anos, comprou duas garrafas de gin, além de gelo de coco e energético, em uma adega localizada na região da Cidade Dutra, na Zona Sul da capital.
Em seguida, ele se reuniu com quatro amigos em casa para confraternizar. Nenhum deles desconfiou da adulteração.
Rafael Anjos Martins, de 28 anos, está em coma desde 1º de setembro após consumir gin em SP
Arquivo Pessoal
Poucas horas depois do consumo, Rafael começou a passar mal e foi levado às pressas para o hospital. Os médicos realizaram procedimentos para remover a toxina do sangue, mas o metanol já havia atingido o cérebro e o nervo óptico.
Desde então, o jovem está em coma, internado na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Osasco, respirando com ajuda de aparelhos.
Os amigos, que ingeriram a bebida adulterada em menor quantidade, também sofreram consequências. Nathalia Carozzi Gama contou à TV Globo que a visão foi afetada.
"As coisas estavam com muito contraste e muita falta de ar, com mal-estar, um peso no corpo. Eu fui para o hospital, fizeram o exame e viram que estava com metanol”, relatou.
Bar nos Jardins
Radharani Domingos fala em entrevista ao Fantástico após intoxicação por metanol
Reprodução
A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, perdeu a visão após consumir três caipirinhas feitas com vodca em no bar Ministrão na Alameda Lorena, bairro nobre de São Paulo. O local foi interditado.
Ela chegou a ser internada na UTI, onde sofreu convulsões e precisou ser intubada, mas recebeu alta para o quarto nesta segunda (29).
“Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. Causou um estrago bem grande. Não estou enxergando nada”, disse Radharani ao Fantásrico. No local, a polícia apreendeu cerca de 100 garrafas de bebidas destiladas suspeitas de adulteração.
Segundo a irmã dela, Lalita Domingos, ainda não há previsão de alta. "O oftalmologista entrou com tratamentos para reverter o quadro da visão, mas ela [visão] permanece comprometida. Estamos na expectativa de que algo mude."
Show de pagode
Jovem de São Bernardo é internada após consumir vodca
Reprodução; e Adobe Stock
No domingo (28), Bruna Araújo de Souza, de 30 anos, saiu para assistir a um show de pagode com amigos em um bar de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Durante a tarde e a noite, ela consumiu algumas doses de bebida, incluindo um “combo” de vodca com suco de pêssego.
Na manhã seguinte, Bruna começou a sentir sintomas como dor intensa no corpo, falta de ar e visão embaçada. Foi levada a uma UPA da cidade, mas seu quadro se agravou rapidamente e ela precisou ser transferida entubada para o Hospital de Clínicas de São Bernardo, onde permanece em estado grave.
Familiares relatam que o namorado dela também apresentou sintomas e foi internado em outra unidade de saúde. “Ela estava feliz, se divertindo, e agora a gente não sabe como vai ser daqui para frente”, contou um parente.
Uísque em festa
Wesley Pereira, de 31 anos, passou mal após consumir uísque em uma festa.
Reprodução
O caso de Wesley Pereira, de 31 anos, começou em agosto, quando ele participou de uma festa na Zona Sul da capital paulista. Em determinado momento da comemoração, Wesley consumiu uísque que havia sido levado ao local. Poucas horas depois, passou mal e entrou em coma.
Desde então, ele permanece internado no Hospital do Campo Limpo. Segundo a família, Wesley sofreu uma série de complicações: teve pneumonia por broncoaspiração, um dos rins parou de funcionar e, quando os médicos reduziram a sedação para tentar acordá-lo, ele sofreu um AVC.
“Ele perdeu a visão e a vida dele nunca mais vai ser a mesma”, contou a irmã, Sheilene Pereira Neves. Wesley continua em tratamento intensivo e luta para se recuperar.
Vodca adulterada
Marcelo Lombardi tinha 45 anos e morava na região do Sacomã, na Zona Sul de SP, divisa com o ABC Paulista.
Reprodução/TV Globo
O advogado e empresário Marcelo Lombardi, de 45 anos, dono de uma imobiliária familiar na região do Sacomã, Zona Sul de São Paulo, morreu após consumir uma garrafa de vodca adulterada. Segundo a família, ele comprou a bebida em uma adega para beber em casa, sem suspeitar de irregularidades.
Na manhã seguinte, Marcelo acordou desorientado, já sem visão, e foi levado ao hospital. O quadro evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e falência múltipla dos órgãos. No atestado de óbito, os médicos apontaram o metanol como causa da intoxicação.
Marcelo era casado e morava com a esposa e uma cachorrinha. A irmã relatou ao g1 que ele era o pilar da família. “Perdemos a nossa base”, desabafou.
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Infográfico: o impacto do metanol no corpo humano.
Arte/g1