Professora cega inspira alunos com método inclusivo e exemplo de superação no interior de SP
15/10/2025
(Foto: Reprodução) Dia dos Professores: conheça educadora de Piracicaba com deficiência visual
Com sua capacidade de ensino elogiada pelos seus alunos e colegas de trabalho, uma professora de ensino fundamental de escola estadual de Piracicaba (SP) também dá exemplo de superação.
Érica Santos é cega desde a adolescência, mas conhece tão bem seus alunos que os reconhece pela voz e ensina de acordo com o ritmo de aprendizado de cada um.
Érica organiza os alunos em grupos na sala para saber onde eles estão e, também, pensando na evolução de seus aprendizados.
"Eu falo que é agrupamento produtivo. Não foram eles que montaram os grupos, fui eu que montei. Pensando assim: no aluno que não tem dificuldade, um aluno que tem um pouquinho de dificuldade, um que tem uma dificuldade maior e o outro que tem muita dificuldade", explica Érica.
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E seu método a enche de elogios:
"Uma professora super atenciosa, gentil. Ela sempre se preocupa com o melhor para os alunos e como que ela ensina, sabe? E eu gosto muito das aulas dela. É uma das minhas aulas favoritas.", conta o estudante Ramon Rodrigues.
"Eu acho bem boa, bem produtiva, a gente aprende mais com ela, ela explica bem", afirma a aluna Emily Luize.
"É uma professora muito boa, ela ensina muito bem e tem paciência com os alunos. É minha aula preferida [....] A aula que eu mais desenvolvo é a dela", revela o estudante Nicolas Marcelo Pereira.
Estudantes e a professora Érica, ao fundo
Vanderlei Duarte/ EPTV
Faculdade, concurso e início sem auxiliar
Ter deficiência não impediu Érica de ir atrás da faculdade de história, seguir o desejo de trabalhar em sala de aula e passar no concurso para professora da rede pública estadual de educação. Quando começou a trabalhar, dava aula sem a companhia de auxiliares e encarava as dificuldades.
Hoje, já são 16 anos de experiência na profissão e ela passou a contar com assistentes.
"Eu auxilio ela dentro de sala de aula com os alunos, tiro dúvidas [...] Érica, com todo o jeitinho dela, com a experiência que ela tem, ela me ajudou, me auxiliou. É aquele momento em que eu conheço ela, ela me conhece, aquela confiança, mesma coisa que o aluno. Eles criaram esse vínculo também comigo", explica a professora auxiliar Amanda Barbosa.
Mãe e irmã redigiam conteúdo
São 11 anos de trabalho na Escola Estadual João Chiarini, em Piracicaba. A cegueira total veio quando a Érica era adolescente, como consequência de um parto prematuro. Na época, para seguir com os estudos, ela teve ajuda da família.
"Quando eu fiquei cega, com 16 anos, eu tive que aprender braile. Como eu tive que parar de estudar por um ano por conta da cirurgia que foi feita no olho, quando eu voltei para o primeiro ano do ensino médio, a minha irmã, que era um ano mais nova que eu, estava na mesma série. Então, a gente estava na mesma escola e deu certo de nós estudarmos juntas. Aí, eu fui aprender braile, ela também foi, a minha mãe. Por quê? Elas passavam em tinta tudo que eu escrevia em braile para o professor corrigir", relembra Érica.
Érica Santos organiza alunos em grupos para saber onde estão e os reconhece pela voz
Vanderlei Duarte/ EPTV
'Todo mundo é capaz'
Hoje, ela está do outro lado. Terminadas as aulas, Érica passa a revisar as anotações feitas pelos estudantes nos cadernos. Mais um momento em que o papel da professora auxiliar é fundamental.
"A gente recolhe os cadernos, eu leio pra ela o relato deles, eles escrevem o que entenderam, e aí ela vai falando para fazer a correção. É nessa leitura, que a gente chama de relato, que ela vai entender até onde eles estão captando a matéria ou não, se estão tendo alguma dificuldade ou não", explica a professora auxiliar Patrícia Bernardoni.
"Trabalhando com a Érica eu aprendi que todo mundo é capaz. A Érica é um exemplo de superação e ela faz com excelência o trabalho dela. Isso que me admira", elogia Patrícia.
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